sábado, 30 de abril de 2011

Senhorita

Senhorita

Zé Geraldo


Minha meiga senhorita eu nunca pude lhe dizer
Você jamais me perguntou
de onde eu venho e pra onde vou
De onde eu venho não importa, já passou
O que importa é saber pra onde vou
Minha meiga senhorita o que eu tenho é quase nada
Mas tenho o sol como amigo
Traz o que é seu e vem morar comigo
Uma palhoça no canto da serra será nosso abrigo
Traz o que é seu e vem correndo, vem morar comigo
Aqui é pequeno mas dá pra nós dois
E se for preciso a gente aumenta depois
Tem um violão que é pra noites de lua
Tem uma varanda que é minha e que é sua
Vem morar comigo meiga senhorita
Doce meiga senhorita
Vem morar comigo

Aqui é pequeno...

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Teus passos

na noite onde o silêncio
é o postigo antigo de um sentimento
ouço teus passos a andarem em mim
ficam, em mim, as marcas dos teus pés
como se areia eu fosse
ficam as gotas salgadas a escorrer
como se mar houvesse
entranho-me numa concha
como se ondas ouvisse
ficam na noite teus olhos de noites azuis
a derramar as fragrâncias de uma primavera
a soluçar os medos da noite inditosa
a arder a lembrança do que um dia foi Amor 
ficam os nãos versejados e a morrer
da morte mais intensa que em fumos se desfaz
morrem os não quando eles já não nos servem mais
a voz ouvida ao longo do vento sibilando
por entre as frestas de um passado envelhecido
entontece a flor que brota no seio da solidão
o vento vagando na noite é uma réplica do que foi meu coração
quando a noite espargia o silêncio nas várias faces do vento
e guardava a minha Alma na renuncia rútila dos astros
guardava, na pálpebra do sonho, o que de mim ainda sou...
...e o que eu ainda sou é crepúsculo de barco a deriva
a vagar pelas ilhas inescrutáveis dos meus sentimentos
a deslizar sigiloso na transparência dos  ventos errantes
desvelando a aragem silente do que de mim restou

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Poema XX

Poema XX

Pablo Neruda


Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escribir, por ejemplo: "La noche está estrellada,
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,

y tiritan, azules, los astros, a lo lejos".
e tiritam, azuis, os astros, ao longe".

El viento de la noche gira en el cielo y canta.
O vento da noite gira no céu e canta.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Yo la quise, y a veces, ella también me quiso.
Eu a quis, e às vezes ela também me quis...

En las noches como ésta la tuve entre mis brazos.
Em noites como esta eu a tive entre os meus braços.

La besé tantas veces bajo el cielo infinito.
A beijei tantas vezes debaixo o céu infinito.

Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Ela me quis, às vezes eu também a queria.

Como no haber amado sus grandes ojos fijos.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.

Oír la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.

Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.
E o verso cai na alma como na relva o orvalho.

Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
Que importa que meu amor não pudesse guardá-la.

La noche está estrellada y ella no está conmigo.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.

Mi alma no se contenta con haberla perdido.
Minha alma não se contenta com tê-la perdido.

Como para acercarla mi mirada la busca.
Como para aproximá-la meu olhar a procura.

Mi corazón la busca, y ella no está conmigo
Meu coração a procura, e ela não está comigo.

La misma noche que hace blanquear los mismos árboles.
A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores.

Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.

Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.
Já não a quero, é verdade, mas quanto a quis.

Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.
Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido.

De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.

Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.

Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Já não a quero, é verdade, mas talvez a quero.

Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.
É tão curto o amor, e é tão longo o esquecimento.

Porque en noches como ésta la tuve entre mis brazos,
Porque em noites como esta eu a tive entre os meus braços,

mi alma no se contenta con haberla perdido.
minha alma não se contenta com tê-la perdido.

Aunque ésta sea el último dolor que ella me causa,
Ainda que esta seja a última dor que ela me causa,

y éstos los últimos versos que yo le escribo.
e estes, os últimos versos que lhe escrevo.

Poema

Poema

Intérprete: Ney Matogrosso
Composição: Cazuza/Frejat

Eu hoje tive um pesadelo e levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo e procurei no escuro
Alguém com seu carinho e lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo
Hoje eu acordei com medo mas não chorei
Nem reclamei abrigo
Do escuro eu via um infinito sem presente
Passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim, que não tem fim
De repente a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua
Que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio mas também bonito
Porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu
Há minutos atrás

terça-feira, 5 de abril de 2011

Você vai ficando em mim

Você vai ficando em mim
Como uma doce lembrança
Como um olhar de criança
Descobrindo a flor no jardim

Como a chuva na terra
Como o sol no horizonte
Como a água na fonte
Como o perdão pra quem erra

Você vai ficando em mim
Como a onda no mar
Como o perfume no ar
Da linda flor do jasmim

Como o orvalho na folha
Como o beijo roubado
Como o desejo guardado
Como imagens numa bolha

Você vai ficando em mim
Como o amor revelado
Como o segredo velado
No teu batom carmesim

Como o abraço apertado
Como o arrepio na pele
Como o gostar que desvele
O êxtase de ser amado

Você vai ficando em mim
Como o aroma na rosa
Como na face formosa
Os olhos de um querubim

Como os anseios contidos
Como o afã verdadeiro
Como aguardar fevereiro
Para perder os sentidos

Você vai ficando em mim
Como as estrelas no céu
Como a nuvem ao léu
Como a cruz no marfim

Como o amor que semeia
Como os braços na cruz
Como o som que produz
O sangue na minha veia

Você vai ficando em mim
Como a tinta na tela
Como a luz de uma vela
Iluminando o meu fim

Como esse imenso sentir
Como esta saudade intensa
Como o amor que compensa
Toda esta dor de existir


Imagem: Olga Sinclair

Manhã

Queria que a tua manhã fosse Divina
Que Deus pusesse a paz entre os teus dedos
E o teu riso franco e doce de menina
Fosse maior e mais forte que teus medos

Queria que a lua acesa que à noite ilumina
Brincasse de esconder com teus segredos
E os teus sonhos, minha doce pequenina,
Brotassem belos como as flores nos rochedos

Queria que o dia fosse espiar na tua janela
Com seus olhinhos de candura, cor de anil
E ao te ver, menina, tão meiga e tão bela

Visse que és mais uma flor que se abriu
E encantado com o amor nos risos teus
Te recitasse em poesias aos pés de Deus

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Você

Um dia a vida te trouxe docemente
Flor que brotou no final da primavera
Que o vento terno a sonhar me dera
Em um amor tão meigo e tão presente

Um amor que fez da vida um sonho
Que me entregou na noite murmurante
O seu carinho em segredos de amante
Que fez do encontro um poema risonho

Deu-me os beijos roubados à ternura
Deu-me o afago ardente da sua mão
Deixou em mim este gosto de doçura

Ficou indelével na alma e no coração
Hoje no longe desta saudade infinda
Sinto a candura da tua alma tão linda

Imagem: Olga Sinclair