domingo, 27 de novembro de 2016

Não há lágrimas nas flores


não há lágrimas nas flores
nem na manhã erguida em mistérios
manhã que não me pertence
há somente o orvalho
estremecido pela canção que a brisa entoa
entre os soluços dos sóis
há a insônia do silêncio
que já faz parte de mim
e da face da minha pergunta
pejada de sombras e bronze
de séculos e eternidade
lá fora o vento, em fuga,
apaga a bruma que o sol
dispersa desnudando o dia
enternecendo o momento,
secando o orvalho
na face das flores,
tecendo ausências
no longo percurso que a noite urdiu
até se dissolver na manhã lilás,
calada,
ternamente abandonada
por entre o perfume e as cores das flores
que trouxeram o dia
talhado em vapores azuis
como a neblina erguendo-se do mar
infiltrando-se parcimoniosamente pelas janelas
e pela distância que esquece a meiguice
e traz nos braços estendido
o tempo pretérito
e as gotas do sonho intenso que perpassa a minha solidão
fecho os olhos
e o sol é apenas um borrão flamejante e quente
arde o fogo do sol
na minha face de nácar
como o primeiro dia revelando o Universo
como o perfume do teu corpo ainda ardendo em mim
enquanto as folhas, caindo, roçam em mim
como as tuas carícias debruçavam-se sobre mim
como se a vida fosse apenas uma pausa
entre dois sonhos
e o nascer um despertar
dentro de um instante finito,
etéreo,
hierático,
ilusório labirinto
onde os ventos passeiam nos desertos da minha alma
e onde a minha alma é essência
a vida...?
a vida é esta eterna ausência
ausência de caminhos engolidos pelos ecos,
assim calados,
assim desmemoriados,
sem falar de ti
ausência e vertigem roubada de mim