quinta-feira, 23 de março de 2017

Tudo é ausência


tremeluz na noite o oscilar
lento e enganoso do tempo
o sonho dorme enquanto a noite espera

meus lábios bebem o destino
porém não pronunciam o teu nome
teu nome sonha enquanto a noite espera

o silêncio ilumina a noite
e arde na espera escura e clandestina
pelo incessante Eco escondido nas neblinas dos séculos

o vento levita e vela a mancha quieta e negra do céu imoto
e sopra estrelinhas que caem
riscando lembranças de mundos que vão na alma

folhas balouçam das árvores
e falam de sombras inapagáveis
soluços incomensuráveis

é primavera
nas folhas sanguíneas da rosa
nas fontes e seus chorosos caminhos
na angústia incognoscível e dolorosa de existir

a noite é espera
a noite é quimera
a noite é sombra silenciosa dos sentidos
a noite é estes muros inacabados de solidão

a brisa esvoaça e traz no ventre do mar
a agonia das terras das ilhas desgarradas
ato e destino
memórias acalentadas pelo ruflar das asas das aves noturnas
pela noite feito os gretados caminhos dos ventos
vigília e eternidade
sonolentos e indistintos rumores de fontes
compassos da aragem sussurrando
por entre ternuras e lírios

entre cansaços e exaustão
a vida se desvela, incidente,
como em tantas outras noites
como em tantas outras épocas

não obstante
para o homem sem verve
sem esperança que o leve
os olhos postos no chão
de quem já não pode chorar
tudo é ausência