domingo, 30 de abril de 2017

Tempos

 
o que eu fui dorme nos tempos,
nas noites
sem respostas,
invento palavras,
espera-me no instante que me olha longamente
e tem a minha alma naufragada em sensações
na sucessão de sombras e gestos
no silêncio incriado dos cansaços
na fome do amor dado aos pedaços
no acalanto e na solidão de tantos braços
na vida sedenta
gritando renúncias
para uma imagem velha
num antigo e esquecido espelho
neste momento de ausência e de prenúncios
nestes dias transitórios
e macerados pelos quatro elementos
e pela melancolia devoluta e intocada
que ressumam os ébrios sortilégios das minhas noites

Imagem: The Sleeping Gypsy
Autor    : Henri Rousseau

sábado, 1 de abril de 2017

Busco versos


busco versos onde só há ausência e delírio
versos que se espreitam e se acabam
no colear das noites longas e contemplativas
versos esconsos que se desatam e em ânsias se elidem
antes que eu possa ouvir o grito latente
premente na boca da vida e da morte
versos silentes
endógenos
onde repousa a impostura dos sonhos
onde repousam segredos
medos
melodias
segredos inescrutáveis
minuciosos medos
momentos de uma densa tristeza
momentos de uma fascinante beleza
momentos de asfixiante loucura
impenetráveis eternidades
perfumes de ontem ao vento

solidão

onde repousa a essência do que sou
alma e memória do que tantas vezes já fui
recrudescendo em séculos atemporais
quando nas noites trepidantes e intempestivas
se escuta um soluço antigo e diluído
antes da lágrima indizível e sem voz
que o tempo possante e incriado
abandonou em meus olhos
deixando-me entre gestos silentes, a sós