domingo, 18 de novembro de 2018

WhatsApp


sábado
caminhando para o final da tarde
de uma primavera já querendo ser verão
a luz de novembro escuta o vento passeando pelas praias
rumores de um sol a cantar
canções de Zeca Baleiro
nas águas inquietas de um mar

estou em casa
sozinho
neste novembro que se move devagar
mando-te áudios e mensagens,
inocentes emojis,
pelo WhatsApp
o silêncio dormita
no WhatsApp que te espera calado
se nem se quer respirar
o celular derramado sobre a escrivaninha
ao meu lado
a negra tela me fazendo companhia
faz-se deserto onde os ventos demoram-se
o tempo parado
entorna melancolias
esperando a noite que demora-se a entrar pela porta da sacada
lentamente a tarde que arde modorrenta
entra a dizer um poema lancinante
que agora escrevo para que saibas o quanto te amo

um áudio que te mandei, há tempo, ainda não carregou
tu me dissestes outro dia que a tua internet é ruim
e quando chove
ou sopra este vento voraz e preguiçoso
incapaz de ouvir as minhas saudades
as coisa ficam assim, assim...
o outro áudio carregou
porém tu ainda não ouvistes
já não importa o que te digo?
as palavras perderam o sorriso?
ou será que já esqueceste de mim?

enfim
é sábado
de uma primavera crescendo em nossos corpos
depois de um inverno rigoroso, chuvoso e chinfrim
agora
o sol lá fora
caindo sobre as águas inocentes e afogadas
em um mar aonde navegam meus sentimentos
traz o moreno e o bronze das gentes das praias
faz promessas redivivas ao verão
um dia destes ainda te pego pela mão
e te levo para um mar senciente
aonde a tarde recitando versos antigos
que inventei só pra nós dois
aonde a brisa inocente
gravando sal e areia em nossas peles
há de colocar-me devagarinho dentro do teu coração
e, então, o silêncio do WhatsApp nada dirá
já não ouvirá o respirar das palavras desatadas
que colho em jardins de poeira e neve para te dar
a tocar-te a pele molhada pelo sol
com as vozes do meu olhar te dizendo amizade
quando puerilmente só te querem dizer amor

o final de tarde dirá em alarido
sílaba a sílaba
o que os meus áudios, mensagens e emojis
até agora, não conseguiram te dizer: te amo!
e não sei se você não quer entender
ou faz de conta que quem disse amor foram as aves
que voam em direção ao sul dos teus cabelos
aves que por aqui voam carregando o anoitecer
que despe-se rindo por detrás da luz dourada
morrendo sobre os morros e o mar
úmidos os lábios
aonde teu nome entontece a tarde cor de vinho
e conta-me sonhos fragrantes de encanto
os silêncios, escutando a noite, me roubam o sono
as madrugadas sempre trazem uns versos para ti
e, nestes momentos, o poema dilata-se irremissivelmente
inquieto e grande como o amor que te tenho
e as palavras diáfanas com as quais te acaricio
atravessam a noite insonte da tela escura do celular
o WhatsApp ainda calado
o sinal da internet não volta
o vento ainda queima-se a soprar
as minhas lágrimas que querem chorar

quando o rubro de todas as vogais e consoantes
caídas nas folhas onde cantam os pássaros
te disserem das carícias que guardei só pra você
e sentires o meu amor te tocar como um sol de seda
e os meus beijos aninharem-se no teu corpo
como os versos aninham-se nos poemas
o WhatsApp, então,
se calará de vez na minha voz antiga e insonte
calará o medo que regressa devagar
o medo de não te ter
sabendo que eu vou te amar para sempre
nos meus sonhos pueris
e calará este vento eloquente
que com langor
te chama de amiga
sem saber que para o sal da minha pele
tens um gosto de carícia
posto que tu és minha browzita
teus olhos verdes tal qual a folha de uma flor
cantam sorrisos para o meu enlevado coração
olha dentro das minhas madrugadas insones
acordam palavras que te digo com ardor
sem saberes que na minha poesia
tu já és meu grande amor

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