domingo, 23 de outubro de 2011

Flutua

Na tua ausência, onde jasmins adormecem, tudo flutua
Flutuam teus olhos oblongos
Tua boca carmesim
Flutuam teus passos adocicados
Flutuam, mas não te trazem pra mim
 
 
Flutuam as manhãs de afagos e carinhos
Flutuam as noites de murmúrios e cuidados
Flutua a nívea flor entre poemas no jardim
A flor que vive sozinha
Sozinha... ai, por que vive assim?
 
 
Na saudade que sinto de ti tudo flutua
Flutuam meus sonhos cheios de poesia e você
Flutuam os aromas de ânsia e de benjoim
Flutua o Destino reverberando o Universo
Flutua o Destino, mas não te traz para mim
 
 
Flutua a lágrima em meus olhos solitos
Flutua a tua voz sobre a sombra quieta do amor
A noite flutua um chamamento sem fim
Chama a noite o sentimento que vive tão só
Sozinho... ai, por que vive assim?
 
 
Na lembrança do que não vivemos tudo flutua
Flutuam os instantes esquecidos no que não pôde existir
Flutuam os insensíveis beijos cansados, enfim
Flutua o amor sozinho nas cores da madrugada
Sozinho... ai, que triste, já esquecestes de mim?
 
 
Tudo flutua... soprado na brisa que anda à solta,
porém nada se mexe,
nem teu perfume...
nem a minha saudade.
 
 
 
Imagem: Olga Sinclair

sábado, 22 de outubro de 2011

Manhã


Quando a manhã surge equilibrando-se por sobre a aurora e os sonhos recendendo à noite e à lua
meu primeiro pensamento é teu
pensamento que o raio de sol borda na névoa acesa que cobre os telhados
a escrever teu nome em cinco sentidos sonhado
pelos negros olhos macios da madrugada
e corro a ver para além do céu recém molhado de azul
os teus olhos,
sonhos entreabertos na sombra leve entre as pétalas do silêncio e os amarelos da aurora
onde um sino oscila e dobra aos sons transparentes das palavras e do meu sentimento,
aonde pássaros cantam dedilhando o instante... tão devagar...
momento efêmero e tão frágil
deixando na auréola do dia palavras que são só tuas
e que eu não posso te entregar,
perdido ramalhete de rosas orvalhado de distância,
te aguardando em meu coração
para além deste tempo ritmado,
para além dos tênues traços curvilíneos da ilusão.
A noite, quando perpassa o céu com suas sensíveis cantigas,
sussurrando teu nome à minha alma,
diz que posso te esperar
a lua que vai passando por aqui tão devagar,
mansamente, a caminho de outros céus...
de tardos mares...
de Fortalezas,
reflete vastidões e singelezas
espargindo em mim o vulto da tua lembrança
e o vulto da tua lembrança em mim também é você
Você...
úmida rosa,
lírio de ausência,
sândalo ao vento...
por quem espero no rastro das estrelas que enlaçam a noite trêmula,
por quem espero em caminhos extintos
revirados de ânsia e de saudades por onde vim
Por quem espero para que venhas gostar de mim...
                                                  ...e que leve-me contigo.
Imagem: Olga Sinclair