A casa acorda e, ainda sonolenta, despe-se do abstrato destino e dos signos da noite que há pouco se apagou.
A manhã me chama, assim, cinza e eco.
Debaixo do tapete sobras das sombras do que foi a madrugada.
Sento-me na beira da cama rasgando o sono e o dia.
Um bem-te-vi diz que me viu...
Na manhã serenada os passáros cantam prometendo voltar.
Deixo-me levar por quantos cantos ouvi junto ao silêncio que desperta.
Ainda não decidi para aonde eu vou.
Não sei se vou pro sofá.
Não sei se fico na cama.
Não sei se ponho a bermuda.
Não sei nem se tiro o pijama.
Vou ficar aqui olhando estes fiapos de vida.
A vida vinda de longe...
Recostada nas cartas amarradas ao tempo.
Tranco-me no mundo e nestes tempos velhos.
E escondo a chave pra eu não achar.
Fecho as janelas que me ofertam um dia por grandes pingos molhado.
Tranco a compreensão no armário do banheiro.
O perdão esquecido num longinquo tempo escasso recendendo à cânfora.
Pego um livro só pra ter a certeza que penso cada vez mais em você.
Os olhos perdidos nas linhas...
A alma perdida num sonho,
Nalguma conversa,
Em algum lugar sutil de você.
Guardo os olhos em suas caixinhas de veludo âmbar, pois já não vêem.
Sinto o silêncio ofegante das minhas dores.
Entre os livros que esperam para serem lidos deve haver algum que fala de ti.
Fala dos teus lábios carmins,
Teus olhos negros...
Como as noites leves e inefáveis das aldeias,
Auroras, fogo e poesia.
São meus caminhos roceiros,
sonolentos,
possíveis.
Entre os caminhos possíveis vou por este que já conheço.
Este que eu conheço a luz das manhãs.
O abandono das tardes desvelando os passos hóspedes da lua.
As noites soprando úmidos sonhos embriagando estrelas e astros.
Vou...
Vou por estes caminhos que já conheço.
Sem dia,
Nem hora,
Só sina.
Sede e fome de vida.
Nalguma coisa escondida
Que eu chamo de...
Solidão.