sábado, 30 de julho de 2016

Teus olhos


sei que teus olhos
não me vêem
mesmo  quando me olham
assim
como a noite
olha o tempo balouçando nos trigais
e as estrelas que chegavam
para banharem e abrirem os mares
ávidos do teu olhar
que não nos vê

o silêncio aberto e longínquo
cai sobre o momento
teus olhos desenham arabescos
contornos de nostalgia
palavras intransponíveis
manhãs doces entretecendo
as rendas farfalhantes dos dias

sei que teus olhos
não me vêem
mesmo quando me olham
assim
com a crueldade do tempo
e da distância contida
nos fragmentos dos ventos
perpassando lentamente teus cabelos
e o perfume de flores tatuado em tua pele

teus olhos,
redondas noites negras,
tenazes a amordaçar-me o medo
são este cântico
consecutivo e indissolúvel
de espera presa ao gesto
preso a um nome
que não é o meu
teus olhos quando me olham
teu olhar já me esqueceu

sábado, 16 de julho de 2016

Eu tenho medo


eu não gosto de bicho
eu tenho medo de bicho
eu tenho medo da forma do bicho
eu tenho medo dos olhos do bicho
eu tenho medo dos passos do bicho
eu tenho medo das garras do bicho
eu tenho medo da sombra negra do bicho
eu tenho medo
eu tenho medo do ganido e dos urros do bicho
eu tenho medo da irascibilidade do bicho
eu tenho medo do bicho...

...que mora dentro de mim