domingo, 1 de janeiro de 2017

O rítmo do tempo e das estaçõe e das chuvas


o ritmo do tempo e das estações e das chuvas
afligem meu coração
pois,
se é a mim que o tempo pastora e envelhece
se é em mim que as estações doem a falácia de serem
                                  flores, vozes de ventos, lassidão
se é em mim que as chuvas misturam-se à imponderável lágrima
e ao desalento que a existência imprecisa grita em agônica solidão
então,
o tempo, as estações e as chuvas
balbuciam presságios entre afetos e outroras
reavivando rumores arredios e histórias avessas
infiltrando-se por entre os nós vermelhos do madeirame do telhado a vista
enquanto a noite embebeda-se de ventanias lá fora
aqui dentro, ainda, a fumaça preta do lampião a querosene subindo
contorcendo-se conforme a brisa que trouxe a noite e se demora
por entre os sonhos e os pensares
por entre tantas sombras das minhas mãos e as de meus irmãos
e o cheiro do querosene cinzelando a noite
negando o farfalhar do tempo inconteste
subjugando-me
sobrepondo noites e dias
à antigas dores
e já não me compreendo quando a chuva cai das cumeeiras
como lágrimas chorando convulsas pelo chão do quintal
espargindo-se em redondas cismas de cristal
não sei em qual estação
me fiz flor narciso mentira jardim
passarinho em tantas vidas
metal pedra terra por fim
um ser imortal no que mais de mortal que há em mim
não sei de qual manhã soluçante
veio a borboleta
          o instante
e pousou na platibanda da janela
                            nos meus olhos
fascinando-se na vidraça onde se debateu
na enganosa transparência de um mundo que não era o seu