sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Chove sobre os lirios

 
chove sobre os lírios

não a chuva que chovia
sobre tudo
sobre os círculos concêntricos
dos mamilos dos teus seios
sobre as ígneas gaiolas
dos pássaros abertos da tua infância
entoando no telhado
um som complacente e ritmado dos pingos
que vazavam sobre as bordas dos telhados
hoje a chuva não escorre em prantos
pelos caminhos incandescentes dos telhados acesos
não deixa no ar o olor ameno e quente
da terra molhada
não molha minhas mãos
enquanto em barro me multiplico
e me repito na angustia de ser a mesma sombra,
a mesma mágoa
não  molha os canteiros exauridos
não toca as cúmplices flores e seus tempos incertos
nem cria tramas e cores indevassáveis
onde vicejava a eternidade
onde plasmavam-se sonhos
e estrelas
acordando as vozes
com as quais ainda teço e digo teu nome
confessando a ambivalência das madrugadas