ONDULAR
Carla Furtado
O teu corpo adormecido sobre o meu
As tuas mãos abandonadas sobre mim
E nos meus olhos a beleza dos caminhos
Que juntos vamos caminhando até ao fim.
Estrelas ardentes flutuam no meu peito
Sinto-me noite, uma noite funda assim
Como a corrente de água limpa que transborda
Dessa nascente cristalina que há em ti
Ah! À nossa beira, amor, cresceram flores
Plantadas pelas nossas próprias mãos
O teu corpo de homem novo semeou
O que na minha terra fértil se fez pão
Sibilante a aurora nasce tão quieta
Traz o cheiro e a frescura dos começos
Como tu ao acordar trazes gaivotas
Assinalando tempestade em mares incertos
No teu perfil desenham-se as paisagens
Dos montes, das serras, dos altares
E de todas as coisas altas, fortes e eternas
Com que imprimes de saudade o meu olhar
Ah! À nossa beira, amor, cresceram mares
Veludo azul, azul de navegar
Correntes livres serenando imensidades
Sob o teu corpo no meu corpo a ondular
Quando a poesia não mais existir, tenha certeza morreremos também.
ResponderExcluirAbraços.