quinta-feira, 26 de julho de 2012

Apenas a palavra

Apenas a palavra é mais linda que a brisa de agosto
A palavra que palpita e desafia
e se esconde nas reeentrâncias indecifráveis das coisas

Só a palavra pode dizer liberdade
enquanto o sol tece a rosa
e o tempo perfuma as chuvas e os canteiros

Apenas a palavra tem a maciez das folhas novas da primavera
o claro das noites sem nuvens
o eco da tua imagem refletido em minha alma

Só a palavra tem o silêncio que evola-se no sopro do vento
que se ouve nos passos do bambuzal
o silêncio debruçado nos galhos onde cantam os pássaros

Apenas a palavra, numa tarde efêmera e sem fim,
grava, na última pétala da rosa mais vermelha, um nome,
que não é o teu, por ser fim

Só a palavra tem o aroma dos jasmins e a cor de estrelas,
pequenos círios acesos na noite negra voltando ao mar
e caem, frágeis flores do tempo, sob o enigma das brisas

Apenas a palavra desenha nos céus borboletas,
dão ao riacho sentido para o serpentear das águas frias do inverno
e me trazem, de algum momento, a rosa branca num vento azul

Só a palavra, rasgada junto com a acha de madeira, não diz o que poderia ser dito
enquanto o amor existiu, enquanto existiram as manhãs de orvalho e beija-flores
e os lírios pendiam das tardes lilases de um ocaso aceso dentro do mar

A palavra emerge da pupa, de algum jardim do passado, e cai aonde tem que cair 


"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por meio dele" (João 1:1-3).

Imagem: Luna Lee Ray

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