Acorda a noite sob o cicio das àguas da chuva
recendendo à terra molhada e à enigma
Nasce a flor na escuridão da noite
entre os sonhos úmidos do jardim
Aponho no negro céu estrelas sonolentas
Sombras esbatem-se à luz liquefeita da lua
Sopra a brisa sutil onde pousa um vaga-lume
a sua verde luz e o seu reflexo de ilusão
Evolam-se nuvens vindas de um passado inapreensível
Incendeiam-se imagens no velho e baço espelho,
símbolos indecifráveis,
cores tingindo o ar
Desata-me do cárcere das tuas lembranças, ó noite,
que se dispersa nas notas da música ecoando
nos olhos lassos de uma madrugada antiga
O pássaro passa errante e o meu coração se encanta
como a criança que brinca com o espelho
olhando o teto como reflexo do chão
Caem estrelas na areia que a lua borda
O mar repete na penumbra as ondas e os rumores dos rochedos
As noites inconsúteis,
iguais,
iguais,
iguais,
cobertas pelo pó e pelo simulacro
dos segredos do enredo a me escreverem
cena após cena
sina após sina
instante após instante...
arquétipos olhando os olhos da morte
nos milhões de anos esquecidos no ir e vir dos sonhos
que separam o homem e a alma
como quem depõe a vida e o destino aos pés do vento
que embalde traz as fagulhas do mar
e os caminhos solitários dos minutos dissolvidos
onde correm meus passos de criança
Quantos séculos discorrem o destino leviano dos homens?
Quantas mortes hei de subornar
e iludir devagar com a antiga pressa?
Diante dos sonhos
e da possibilidade do retorno eu minto
Para não morrer eu minto
Noite após noite eu minto
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