sábado, 12 de janeiro de 2013

Seis sílabas

O sonho aflora e é estas lembranças solitárias,
chuva caindo sobre os versos,
sobre um rio imperecível,
sobre esta névoa furtiva que encanta os meus sentidos
como se o ar pudesse ser arte e círio e arder até o fim
Ninguém ouviu o ar arder na noite âmbar
Nada há nas luzes densas que devoram a noite
Nada há no vento onde se esconde o silêncio
Não há nada senão o teu nome no meu sonho
Teu nome que vivia em murmúrios nos meus lábios,
na minha saliva e na minha sede de ti
Virão inúmeras primaveras e verões antes
do impresssentido crepúsculo
e da tristeza das palavras

No amanhecer,
junto com o dia lasso e nu,
enquanto o nada sibilava no frio do quarto,
vindas de ti seis sílabas cospiam o cuspe
do descaso aceso pela indiferença
As palavras feriram,
pungentes
Podias tudo, menos ser a palavra dita sob a dança da mágoa
A tristeza consumia aquele final de primavera
que ainda sendo flores, já era solidão
frágil sépala inclinada a se esboroar
Quando será dia novamente se neste momento
a noite tocou-me a pele tornando-me escuridão?
Os segundos riscam as horas
com cacos de solidão

Uma a uma em uma outra noite será primavera
e o estrídulo silêncio falará das cintilações das manhãs
e de girassóis tão antigos quanto os versos que te fiz,
todos tão úmidos de sussurros
a molhar minúsculos silêncios
e os teus olhos de papel
Escuta,
a tarde que ardia entre nós
e as nossas solidões mitigadas pela luz cinza
e calcinada que entrava pela janela
deixando o gosto amargo de um novembro
que caminhou irresoluto
para a precária e última eternidade
O sabor da chuva ficou no silêncio pisado
pelas palavras ressequidas,
pelas vituperações
que engoliram a ternura
e os dias iguais tornaram-se rotineiros
não fosse a imponderável poesia e os versos
e estas palavras que para além dos ventos
encontram sentido e companhia

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