sábado, 10 de janeiro de 2015

Eu não

 
"Quantas vezes tremi
coberto apenas pela luz do verão
enquanto te descrevia pelo meu sangue."
 
Juan Gelman.
In "Fábricas de amor".
Amor que serena, termina? Editora Record, 2001.
 
 
 
 
O tempo derrama sobre o dia o ópio das horas
As sombras vêm para a tarde
Erguendo a noite do chão
 
A luz do verão consome-se lentamente
O dia morre, então
 
O Universo que desconheço,
meu universo em meus livros,
meus textos,
o grande engano dentro de mim,
o que penso, o que intuo, o que sinto,
são impermanentes e perecíveis
A vida é indagação
 
O passado vivendo irremissível dentro do velho espelho da mente
É medo  o outro   e divagação
 
O sonho indigitado já vem usado, surrado
É sonho de segunda mão
 
O menino que ama Pingo
Soluça sua entrega na rua em busca de sensação
 
Um dia você falou tanto silêncio aos meus olhos
E disse tanto gesto cheio de ilusão
 
A saudade me olha com seus olhos baços
A saudade é inverno e consumação
 
eu não
eu não
eu não
eu não tenho bem certeza
se a morte ainda me quer
ou se me dissolverei no vento
como a poeira do chão
se a morte não me quiser
 
Tremi
Quando o vento passou
E o mundo tremeu comigo
Abalando a luz que sustentava o dia
Enquanto te descrevia
Como o silêncio escreve,
Reescreve e descreve
Na noite volátil e leve
A mais delicada e terna poesia

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