quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Estrelas de tule e organdi


aqui,
onde repousa a impermanência
nada é minimamente cognoscível
rugem vultos pressagos
uma alucinação inteligível
para se orientar
enquanto a dor semeia o tempo
dos rumores nas águas convulsas dos destinos

palavras ditas ou ouvidas ao acaso
acostando-se ao poema
para se recitar quando se estiver tomado
de metafóricas fantasias
incendiando o vento no ocaso de algum dia
e o mundo a tremer ao ser inquirido
a mente mentindo
tornando o mundo fuga e medos
falaciosos navios navegando
em mares de poeira, cinza e segredos
esfacelando os oceanos suspensos
criando ilhas purpúreas,
rochedos encantados
e melodias embriagadas que soarão
como o mergulhar de uma pedra atirada nas águas
fazendo das marolas concêntricas
a Idéia que pressinta a chegada e a partida dos ventos
tonteando os redemoinhos de tanto girar
em espirais navegando nas águas até se acabar
retorcendo o instante empíreo e absoluto
até que tudo que fica em pé
e tudo que se arrasta
e tudo que voa
e tudo que nada
prescindam do aqui e agora
antes de serem friáveis ao toque
pois tudo que É
é Uno
e fora do pensamento nada há

o final da tarde girando os girassóis
entre os vermelhos e os amarelos
nos quais se desfazem os dias
soa esta canção desmedida do vento que reverbera memórias
e traz a noite lentamente
girando o mundo mais uma vez

a lua sustentando a noite com sonhos e estórias
o dia desvanecendo por detrás das montanhas
acossando o abismo do tempo
e o plangente urdir das horas
engano dos homens
antepostas aos seus passos e ao que ele é
infinito e irrequieto segundo
sortilégio de sopro, suor e sêmen

estrelas de tule e organdi
acendem o céu
imenso e fugitivo dos pássaros
distendendo-se pela tarde opalescente
fazem a noite rediviva
para que eu durma acalentado em teu ombro
pelo marulho das ondas
roçagando um pequeno barco à deriva

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