sábado, 30 de abril de 2016
Pássaros negros
agora que se vão
suavemente
os pássaros negros
levando na alma a essência da árvore
e a solidão de arcanos invernos
agora que os sonhos adormecidos
querem despertar
enchendo o ventre da noite de signos
sobem aos céus os perfumes
e a promessa de uma primavera
translúcida
em flores ressumando cores
com a brisa a soluçar pelos caminhos
a soluçar saudades inacessíveis
à espera de um sol
e de um poente entreaberto
vermelho e estilicidado
vertendo sobre a primavera
a ternura tranquila
e insonte de uma borboleta
ao longe sinos dobram no contorno
da noite que nos falseia a nos chamar pela alma
e retrocedendo nos mata de saudades e de ausências
entre o adormecer e os sonhos da derradeira loucura
e outras comiserações que a noite
subitamente
conta ao nos fazer chorar
a lágrima salgada dos anjos dolentes
a lágrima sagrada dos anjos silentes
terna e longa como o teu nome
e a lágrima dos rochedos quedos
e debruçados sobre o mar
de onde partem inumeráveis e exiladas velas
levando nos velames enfunados os rudimentos adocicados
de uma nova madrugada infrangível
por onde a luz se derrama
fazendo da noite a manhã macerada
onde a lua se desprende
afetuosa e branda
da essência do silencioso escuro se entreabrindo
e repousa
junto a última estrela
aninhada no céu
e imersa no momento das águas
molhando o gesto e o contorno dos portos
fazendo mover-se o raio de sol e o instante
que faz pulsar o coração embriagado do dia
acordando os barcos antes da tempestade
e os girassóis encharcados
do orvalho desatento
e dos segredos magoados pelo desleixo do vento
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