domingo, 5 de junho de 2016
Escrevo
há palavras que não posso te dizer
há gestos que são só silêncios
e te olham
como as memórias olham o passado
e as noites, então, demoram-se
percorrendo as sombras sobre as flores
fazendo escuros os mundos
nos quais vivo sem ti
por que a poesia que tenho
é feita das palavras que não posso te dizer
escondidas em mim
desmedidas
te desejando
e sonhando nos amores todos
como seria te amar
em tanto amor pousado na tua chegada
em segredos
em ausências
na espera
respirando o teu perfume
escrevo
escrevo
escrevo
como se escrevendo cada vez mais
pudesse, enfim,
dizer-te coisas de amar
e, então,
a tua boca pousasse na minha
e todos os verbos diriam versos
e todos os versos diriam amor
nas noites insones fecho meus olhos
dou nome a ti
e canto e escuto o nome que te dei
e tremo dentro da solidão
sedenta da tua doçura
tudo é recordação
que os teus olhos põem no meu coração
às vezes me pego pensando
o que para ti eu diria
se eu pudesse
às vezes me pego pensando
o que para ti eu faria
se eu soubesse
e entrego à noite que habita em teus olhos
o nome que para ti eu sonhei
e que enche os silêncios do meu mundo
com uma canção de uma antiga voz branca e quieta
e um sol mirando o outono
a rosa entreaberta no vermelho dos teus lábios
lembrança do beijo
que não te dei
e que é o inominável das palavras
pra sempre nesta poesia
para sempre inacabada
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