derrama os seus azuis derradeiros
nas águas regressivas do mar
o dia trouxe memórias e canções de infância
segredos e lembranças adjetivando momentos
momentos recitando os poemas que um dia fiz para você
declamando teu corpo
misturado ao meu mundo insondável
profundas águas de um mar
penumbra sombra escura
da solidão bipolar
olho, através da janela,
o inverno passando no perfume de uma flor temporã
pelas frestas das janelas entra a brisa úmida de ilusões,
fria e muito triste,
e, no entanto, olorosa
rumorosa
o vento ondula suas vestes de cetim e infinitude
o silêncio esconde de si o que de si dizia
e não responde o que tinha para dizer ao dia
o silêncio era um poema garatujado pelas folhas
que caíram e secaram no chão pisado pelo outono sem flores
que virão na primavera?
quem dera!!!
se tudo embaixo do céu é só este aguardar,
esta espera
se tudo embaixo do céu é somente este sonho vígil
estes sonhos vetustos de Mara
se tudo embaixo do céu é tudo ilusão e quimera
olho, através da janela,
o enigma do fim do dia que já vem engastado na manhã
o dia esbate-se nos arabescos bruxuleantes da tarde
a tarde sacoleja no ar as primeiras sombras
e demora-se
e esmera-se esboçando a noite ascensional
ascendendo da vertigem dos morros
ao longe, ao longe...
ou derramando-se no quintal
longa e solitária
levantando-se sobre os sonhos que trará
negaceando as vidas com os escuros estilhaços
de um crepúsculo fundindo-se à terra
derrubando com ternura o mesmo sol sob o qual eu te amava
folhas amarelas e ocres ainda caem nos lentos caminhos efêmeros
caminhos sem voz
calando palavras que não são mais
enquanto a noite incognoscível volteia acesa
lentamente
negra mão
fazendo acalanto aos quintais
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