sábado, 3 de junho de 2017

Noite de chuva


noite de chuva
o vento passa por entre o escuro mais profundo
e arrasta estrelas enternecidas entre os meus dedos
arrasta a lua, os astros, um deus do medo
o céu de infrangíveis segredos
arrasta a cor da pétala da flor
e a palavra inocultável
como  a dor
de nascer e viver morrendo

noite de chuva
as sombras dessentidas
geram a madrugada
no espaço fecundado pela sombra
inoculável
como a melancolia
de morrer e nascer todo dia

noite de chuva
esta chuva que persiste talhada
ressumando a lágrima que demora
seca em teu rosto
enquanto teus passos te levam nua
pelos caminhos dos rios,
intocáveis
como a pretensa palavra
que define o engodo do que seja a morte e a vida

noite de chuva
que amadurece o inverno
e prenuncia na chuva que ora cai
mais uma outra primavera
e burila no enigma do barro
o esboço
de uma lua crescente
em uma pequena noite,
jogo de cintilação e de espelhos,
suspensa nos astros
indecifrável
como a angústia do bem e do mal
e a panaceia da morte para a vida de medos
que se vive afinal

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