sábado, 23 de agosto de 2014

Luzes da aurora



Por que, Senhor , Vós
Me destes as trevas depois
De eu viver tanta luz?
Por que me distanciei do lar
Onde habitava e viajei um mundo
De delírios, devaneios e fantasmas
(Leila Echaime in "Poesia Reunida" - "Delírios")

E agora que farei...
Se tua pele ainda acalenta as minhas mãos
Se os nossos sonhos,
exaustos,
ainda dormem em meu travesseiro
Se as luzes da aurora escorrem nas vidraças
embaçadas pelo sol ainda frio da manhã?
Se as manhãs já não sabem dizer o que é passado?

Na casa ainda vivem o gesto e o passo,
abrindo portas,
tardando a chegar dos álgidos outonos
Ainda vivem palavras
neste silêncio tão sozinho em mim

Por entre as rosas e os jasmins sopra a brisa
íntima e derradeira
Enlaço-me a essa brisa esbatida em tons vermelhos,
brancos, amarelos, rosados,
recitando monólogos sobre o jardim
e parto,
antes que o dia nem bem nasça
e que na brisa que passa
como eu chegue ao seu fim

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