segunda-feira, 30 de março de 2015

Versos de linho e organdi


Acordo com a primavera se insinuando
por entre a luz prometida
aos raios do sol e à flor de fogo
que arde nesta manhã de setembro
Os últimos pássaros que migraram no inverno
agora se vão rumo a longínquas e tardias ilhas
onde um céu úmido de azuis e de fulvos instantes
os espera emergindo das tardes florescendo nos vergéis,
nos campos de trigo
que ondulam, inermes,
curvados aos ventos
que arrastam o dia,
utópico,
divino nas indesnudáveis  manhãs
Vão como se uma voz acordasse e os avocassem
sendo imperioso partir
deixando na árvore a singular solidão dos ninhos
deixando nos caminhos extenuados dos ventos
o murmúrio do canto primordial acordando as manhãs
Levando consigo a semente de um sol
amarfanhado entre verdes nevoeiros
Levando a fluida essência do galho
onde o demiurgo pôs uma flor
e as sílfides confiaram os segredos de arcanos invernos
enleados às canções que adormeciam as tardes
Lá se vão os pássaros,
poesias declamadas,
versos de linho e organdi,
rumor de asas solfejando o silêncio,
pequenas carícias que,
inadiáveis,
vão-se embora
como os rios, os ventos e os homens

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