terça-feira, 24 de novembro de 2015
A palavra
a palavra
não a espera pela palavra
rito de barro e aflição
murmúrio e essência
finita em número
infinita nos sentidos
e no sentir
leve ou áspero
ranhuras a deglutir o inominável
que vem do homem só e canhestro
e paira sobre o dia etéreo
e intangível
e a noite infinita
e incomensurável
ah! se já não fosse tão insuficiente pensar
e tão indominável sentir
jamais sentiria a saudade que sinto
de um perfume em um aroma de um outro tempo
jamais amaria o amor que eu amo
neste canto silencioso
anteparo e aresta
do meu olhar
e desta comoção que por vezes me toma
diante da inquietação de ser homem
incerto e estranho
jamais me compadeceria da imagem acostada ao espelho
este outro e mesmo eu
desviando os olhos de mim
como quem toma o mundo pelas aparências
e as noites pelas vozes que me dizem os sonhos
jamais escreveria o desespero que escrevo
jamais choraria as lágrimas algozes
nem em tempo algum as secaria com as costas da mão
sem contestação
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