terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Vaga a vida

 
Vaga a vida antiga e tardia
efêmera rosa vermelha
ramalhete de lembranças
âncora de ilusão dissimulada
sombra despedaçada
em vítreos cacos de neblina

Vaga a vida errante
com fome

Vaga o homem espantado
com fome

Vaga o cão espantalho
com fome

Vaga o grito sem origem
náufrago desolado em angústias
calado na mixórdia das dores
e na mentira dos espelhos estilhaçados

Perambulam pelo drama da vida saqueada
Crianças famintas esperando dentro da fome
crianças esfomeadas sentadas em cima da fome
crianças famélicas esmagadas embaixo da fome

Giram as engrenagens dos relógios sem memória
e da máquina com fome
mentindo para um mundo nostálgico
e suspenso
transido de medos
a nos devorar
com tantas certezas saqueadas
e um só destino
um mundo de arrivistas
um mundo de parasitas
olhando escarnecidamente para nossas lágrimas

Vaga a vida parva
mesquinha
fadada pelos instantes
sem alma, sem verve e sem nome

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