domingo, 6 de março de 2016

Haverá um mar


Haverá um mar
onde a água volteie
e suspenda os barcos
ocultos pela neblina
espadanando a manhã
onde escorra caudas de cometas
poeira etérea
e astros esquecidos espelhem-se
atravessando
e fecundando as madrugadas ofegantes
e prisioneiras do instante Primordial
que proclamem poemas e ilações

E sobre o mar
caiam estrelas
enchendo de luzes e mistérios a noite
voem tardios pássaros
em noites insidiosas
brancas asas
contrastando com o negro silêncio
marulhado pelas ondas
e pelas lágrimas que se alongam em meus olhos
ofuscadas pela vida que não entendo

E no mar
nadem os peixes ressonantes
arrastando os momentos intermináveis e liquefeitos
desmanchando a existência líquida e absoluta das águas

Um dia há de vir do horizonte este mar
e este céu contando saudades e poesias
e o vento cantará as doces palavras
que pedirão em imolação
o beijo que aguarda nas bocas
entre salivas e balbucios de indecisão

E na terra abandonada pelo mar e pelo sal
a flor nascerá e crescerá e morrerá
sem sequer atentar para que horas são
nascerá e crescerá e morrerá
por que é o Devir dos Seres nascer, crescer, morrer

E nas paredes as sombras se erguerão do solo
e nas matas assomarão procriando montes
numa escuridão crucial e infrangível
escondendo dos meus olhos os ventos
e o canto das folhas secas
caindo na solidão amarelada
pelo pólen que cobre a terra
e que afaga os meus passos
principiando a morrer

No ar um aroma fito neste silêncio enorme
pintalgado de verdes perfumes e memórias
abraçada ao vento a solidão alardeia a ausência
o trêmulo orvalho pendula
na solitude da pétala de uma flor da montanha
atravessa a tua ausência em meus versos
que se alinham na madrugada dos pensamentos
na insônia gritando as horas covardemente
deixando no corpo este esfalfante cansaço
dos erros impudentes
e a lembrança ofegante
do roçar dos teus seios em mim
como a brisa lânguida
acarinhando com frescores
o beijo de um sol em meu corpo

Imagem: Steven DaLuz

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