segunda-feira, 8 de agosto de 2016
Praias anoitecidas
acordo,
penso em você
e sinto a solidão das palavras que para ti guardei
e com as quais espero pelas tímidas noites sem cores
penso aonde eu estaria
neste dia e nesta hora
se meus braços não tivessem
enlaçado a tua cintura e os teus gestos?
aonde eu estaria se meus olhos ainda soluçassem
a tua ausência e o teu silêncio
e a minha boca passasse as estações
sorvendo o mel que era a tua primavera?
ainda é abril na clausura das rosas
nos regatos consumidos pela mudez das tardes
pela solitude dos ventos
ainda é segredos na inexorabilidade do outono
que dorme sob a bruma da paisagem
aonde cantarão os pássaros afogueados que entram em mim
e a vida se aquece cheia de encanto
ainda é demora a palavra que te conhece
e que ainda vibra em minha pele
e diz teu nome junto ao instante imperceptível
que entra pela minha janela
vagarosamente
acendendo sombras irreveladas
penso...
aonde eu estaria
neste dia e nesta hora
se o amor é vasto e louco
e basta apenas um pouco
destas águas afogadas em palpitações
e entrega
e esquecimento
para transbordar como um rio que cansado acha o mar
levando o choro das faces
e trazendo o afago na volta
do marulho do tempo a passar
aonde eu estaria
neste dia e nesta hora
barco sem vela
mares demorados
areias ancoradas ao destino
olhos cansados
as mão presas ao passado inexato
que envelhece interminavelmente
não me procures
esquece-me dentro dos espelhos
dentro dos porta-retratos
lança-me ao exílio dentro de garrafas
nas praias anoitecidas
nos silêncios
fugidios das perguntas
ocultando sílabas dolorosas
cortando o ar
não diga adeus
não faça loucuras
esquece-me
que escolhi para morrer com os versos condolentes
recitados por uma imprecisa madrugada
eivada de ternura
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