sábado, 7 de outubro de 2017

Desalento


vem dos meus muitos eus o gosto esconso e devasso do abandono
o tempo tecido de instantes morosos
a dúvida levantando-se do medo das noites antigas
a agonia onividente
na clausura a tristeza cantando por entre os ferros da cela
o silêncio arrependido da culpa
o asco escorrendo pelas sombras embebidas do dia
a melancolia premente inventando vazios momentos
a esperança que espera e não chega
a distância que não começa e já cansa
a barca da solidão à deriva
barco a ser queimado
os ígneos passos dos meus caminhos sem volta
a lua cheia suspensa e estendida
prisioneira e esquecida na insolência dos astros
o desassossego dos cães latindo na madrugada
a madrugada acordada, emboscada, esperando pela manhã
a inércia observando e absorvendo a vida que morre em versos tímidos
a vida que dorme o sono inócuo
prostrada nos templos incandescentes
silogismos a me definir no nada que sou
e me assuntam na fluida lágrima
que liga a palavra à palavra
que me visitam embriagadas e trôpegas
num engano de eternidade
que me faz grito vago
noite outra vez

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