segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Eterno

Silêncio...
A manhã ainda vislumbra no céu os últimos sonhos da noite
quando a brisa acorda os girassóis
reclinados para a luz segregada pelas fragrâncias da noite
O dia desponta integrando-se aos sussurros
que as estrelas murmuram
lábios rubros de ilusão
Percorre as linhas indefinidas da tua silhueta
como a uma ilha em um mar de noturnos véus incandescentes
Estremeçe-me o olhar na irisante manhã ávida de eternidade
Chamo por ti
Muitas vezes chamei por ti
Não vens
Nunca viestes
Outrora houvera um mar para acolher a ti
e a tua lua enclausurada num céu que se transmuda em sombra perecível
a refletir seus lumes e ecos imaginando os dias ausentes
sem ninguém
Um mar para espargir a noite lentamente
na inquietude que me esperava como um cais inundado de memórias
e lembranças do tempo em que te conheci
Um mar tartamudeando sons de uma aurora fulva
na travessia perene dos pés descalços de um anjo
Arredando os liames dos trêmulos segundos
O ininterrupto marasmo de ir contando os dias no calendário
como se o tempo existisse e incessantemente não esperasse por nós ali adiante
com sua insustentável sentença
O ar e a luz do sol de fevereiro penetram a janela
Murmuram poemas no vento purpúreo
Líricos poemas de tempos antigos e distantes
Amarelecidos sudários a cobrir os medos e as dúvidas
Estalam preces para o despertar do dia
cujo único ofício é o de predestinar a minha morte
Apesar da tua ausência não me sinto sozinho
Teu nome pernoitou dentro de mim
A luz e a ausência da luz tecem a mentira das horas
que enforcam a vida
latejando sob os meus pés o impulso para o salto...
para a morte
De mim nada mais restará quando me for
do que as flores brotando e sucumbindo
antes que a primeira pétala ensopada de luz e vento toque o chão
O olhar de um sol se pondo arrastando as noites que penetrarão
as janelas que deixarei abertas
E a brisa trazendo o perfume dos jasmins
atravessando a penumbra
do segredo
e da desolação
diluidos
no sono
na solidão
da qual me fiz
fuga e omissão
esperança e dúvida
Visão magoada de um sonho
Na irisada pele do tempo
a manhã esqueceu o meu nome
Silêncio...
O silêncio se ergue rente à morte
O chão é cinzas
Perenes cinzas e presságios
A alma, enclausurada, indaga mistérios à voz do vento
O mistério ameaça ruir
Infindo é o sono daquele que dorme o sono dos espelhos
O regresso, lento sono, pressente a brisa na noite revelando as imagens ilusórias
A morte anoitece devagar sobre mim
Abro os olhos para o imenso vazio
Espoliado do "meu" mundo
Meu nome não é mais meu
Meu coração, que nada possui, partilha o abandono de ser eterno
Minha alma lê as imagens refletidas nos espelhos
Silêncio...
Só o vento sopra...
Cantando lindas e cativantes canções
Sonolento, do outro lado do espelho,
o dia acorda acendendo
o sol espelhado de um outro mundo
onde livre, recriada, minha alma pulsa sua essência
Andorinhas passam em bando
levando consigo os prelúdios da manhã
acordando os girassóis
o mar
a corola rubra do horizonte
e a minha alma
inefavelmente
eterna

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