quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Seis quadrinhas para o mar e uma reflexão

Qual o sentido do mar
todos os dias
passar na porta de casa
sem nem sequer me olhar?
 
 
O mar que dorme sobre a pedra
fremente
não é o mesmo mar
que chora a solidão da gente?
 
 
Quem acendeu no mar sua centelha de espuma
toda incendiada em ventos
em aflição, longe o grito, esperando
que eu lhe ouça os sentimentos?
 
 
Longe o grito,
longe o mar
Senhor calai minha voz
Senhor me deixai chorar
 
 
Caminha o mar na transparência da areia
distâncias de sal e de granito
caminha e apreende o lugar
incomensurável, bonito
 
 
Amanhece o mar na baía
e dentro dele amanhece o dia
é tempo de violetas nas janelas
é tempo, em nós, de poesia
 
 
Há um momento infinito em mim
quando fecho os olhos
no qual pousam mares
e gaivotas
réstia de luz
dentro de um prisma
e bebo areias
na concha das minhas mãos
e, então
tudo o mais é de outros tempos
espanto, medo, silêncio,
a poesia não feita
o antigo e intenso desejo de voar
gostar de ti
beber minha dose diária de cicuta
morrer
reviver
reatar o conluio com a vida
remorrer
impune e repetidas vezes
indubitável como a imagem infante
dos olhos remelentos da névoa das manhãs
o mesmo ramerrão de se abandonar
ao choro que atravessa os dias
mascar o sacrossanto grão de solidão
e ouvir a chuva e o vento tamborilando e assoviando
no telhado
azulando e encantando as tardes crepitantes e mornas
como as nuvens e seus berloques aquecem e enfeitam
os jardins com seu poeta em cada flor

Nenhum comentário:

Postar um comentário