quinta-feira, 1 de março de 2012

Caminhante


"Caminante, no hay camino,
  se hace camino al andar"
      (Antonio Machado)

Caminhante, não há caminhos de terra
que os teus passos possam andar
Não há caminhos na noite inabalável
que os teus passos cansados
pisando a finitude do mar
pisando em sóis e estrelas
pisando a seiva que fez a tua dor e os teus medos
possam num assomo alcançar
Os cães ladram à proximidade dos teus passos
augúrios esquecidos no ar confundido
aos ventos da manhã ardendo
Lá fora o dia
nasce dessedento
e já inicia a morrer
Caminhante, o caminho se faz de mansinho
ao pé da sabedoria imanente
da velhice
que os teus passos te deram
na cadência da terra firme e dura
das estradas gentis que passastes
Claras nascentes
rios escuros
Alguém ouviu os teus passos nas águas
e retornou
silêncio no peito esboroado
as mãos tateando o ar da tarde antiga e sossegada
que os ventos ouviam
singelos
sementes do rumor do hálito dos rios
Aquele que ouviu teus passos nas águas espera
tocado pela cegueira
dos olhos fechados ao silêncio
das ruas ocres e vagarosas
Caminhante, não há caminho
só há teus passos na miragem da estrada que surge em frente
e que um dia se apagarão
Ouve?
Ouve as imagens do passado?
É a voz do Tempo
bricando com as areias que pisas
e com a memória
dos teus passos que escorrem pelas sendas das ilusões

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