quinta-feira, 29 de março de 2012

Há um silêncio

Há um silêncio em tudo
na flor,
na noite,
na dor,
na sombra,
na vida,
nos olhos que erguem-se para olhar o mar
vagando em busca de palavras
que transformem o fim em rima
Há um silêncio em cada esquina
permeado de receios
e ternuras
escondidos no que não te disse
no que ficou por falar
e nossos olhos, poetas,
brincando no quadro-negro da noite ditosa
escreveram inicíos de versos em esperanto
"luno", "pace", "vojo", "vivi", "belega", "rigardi"
Enquanto no espaço imponderável do infinito dos versos
escrevemos, afinal, a palavra "fim"
na lenta manhã onde o azul doía dentro de mim
onde o gesto se exauria
Há um silêncio de trinta anos
numa praia de areias finas
num feriado qualquer
num fevereiro banal
carnaval
Há um silêncio retalhado no teu nome
no teu sobrenome polonês
que me ensinastes a dizer
quando te aninhavas em meu colo
e eu sussurrava ao teu ouvido
o amor que guardaria para o tempo impenetrável
sem desconfiar que somos personagens
nas auroras e nos crepúsculos da poesia que espera
e transforma o monólogo do destino em odes e barcarolas
Agora já não importa
o primeiro encontro
a surpresa
um mistério inopinado
silencioso
como esta ausência começada que bebi
junto com a formosura dos teus lábios
E tudo mais foi silêncio
quando o tempo engoliu o grito
na iniludível tarde
Houve um silêncio em tudo
resposta do eco ao qual me exponho
na seta inquebrantável do instante
entreabrindo
e fecundando o Infinito

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