domingo, 25 de março de 2012

Chuva

De novo a chuva
miudinha
A chuva miudinha que quase nem faz barulho quando cai
A chuva miudinha que nem cai
Vem deslizando como mãos percorrem os corpos
Apenas carinhos onde me iludo
Por que não ouço
Sou surdo
À inaudível canção das ranhuras das gotículas nas janelas
Das gotículas dissolvendo-se no ar
Uma chuva de mentira
Uma chuva meretriz
Que cobra o michê da vida
Bordejando a lua cheia
Esgueirando-se pelas ameias
Chove a chuva miudinha sem som
Como quem ouve uma lembrança
Dos telhados da infância
Do quintal onde os antúrios
Namoravam as rosas
Fazendo ciúmes aos cravos
Molhando e misturando as cores
Para que o arco-íris se fizesse
Distraindo os meus olhos
Com cores quase de abril
Outonais
Utópicas
Desatentas
E, desatento,
Procuro um dogma que me diga
Que a chuva não cairá antes que
o sono me deite e me ponha a
assuntar a chuva miudinha a cair
Chuva miudinha que
com seu tlim-tlim-tlim sublime
umedece os olhos negros da noite
com ausência e versos de um poema
que nunca vai morrer
A chuva que não cai
Quieta
Enternecida
Arabescos transparentes
Rasura do dia
E da poesia
Que me espera
E/ter/na/mente

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