terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Verdade

Eu nada sei da verdade
Eu nada sei do antes insidioso
do mar
eterno vate
de homens e de almas
confundindo
as suas águas
com as minhas mágoas
espuma das ondas aladas
à procura de um céu
para morada do canto e do silêncio
margem imperfeita do tempo
Obscuras são minhas certezas
resgatadas pelo vento vermelho
que sopra entre um poema e uma morte
dos versos ocos e mudos
sem nome
sem tempo
ilhas
de um efêmero oceano
surdo
para que eu possa chorar sem constrangê-lo
Na noite com seus poemas falazes
impudentes
repousa o gesto incipiente
ave implume
o vôo extenso que se projeta
na atmosfera brumosa
Eu nada sei da verdade
Do êxodo em meu coração
Nada sei da criança
que por e pela terra vivia
com seus pés vermelhos
quando no barro chovia
amalgamando as almas
na greda friável, macia
Um dia verás que Deus
é um aturdido pensamento
e de pouca ou nenhuma valia será
a inquietação da verdade
O vento que leva a folha
por outonos de esmaecidos vermelhos
e os seus troncos de lata e zarcão
cria ânsias de miragens de sóis irisados
furtivos
mudos
em chamas
A verdade não está na palavra
e seus sentidos inconstantes
e dúbios
A verdade pode estar no
exílio da tarde
para que a noite se distenda
e trace com seus gestos negros
o caminho miúdo das estrelas
Pode estar
no rochedo consumido
pelo desassossego das águas do mar
Na praia deserta onde possa se descansar o destino
Sob um céu recluso
No rio
No amanhã
Pode estar na tua sorte
No nascimento
Na morte
de tudo que acreditavas
quando semeavas
teus pomares
de tempos
e incertezas
Da verdade eu nada sei
Me diz o sortilégio:
é tarde
É quase hora de voltar pra casa
Às vezes ouço esta voz de argila
infinitamente mistério
semente
ternura
Às vezes não ouço silêncio nenhum
A alma desabitada
Eu, sem caminhos
sem verdade
lua
sonho
sopro
cadência
segredo
noturno girassol
pássaro
medo
urdidos nesta agonia

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