sábado, 7 de fevereiro de 2015
Instante de mim
Assim como quem marcou um encontro,
antes de compreender o tempo
às tantas horas dos tantos dias você estava lá
na praia do Moçambique
na tarde antiquíssima e insonte
de horas ausentes
de areias tardias e trêmulas
como se não houvesse tanta saudade no tempo
e o acaso fosse o momento onde o sonho
andasse pelos caminhos da alma
e falasse a voz da eternidade
como se houvesse só a canção ouvida na chuva
a nostalgia somente
de uma tarde na qual nos esperávamos há tantos anos
nossas palavras e gestos tão
quietos
nossos olhos que adormecem nas tardes como os
girassóis
nossos lábios que dizem sílabas e sons
solitários
segredos escondidos nas fogueiras acesas
iluminando e aquecendo a nossa noite
nossas mãos singelamente entrelaçadas sobre
o nada
nossos passos a caminhar pelo mesmo momento
Me diz!
Me diz!
em quantas outras existências impermanentes já nos
encontramos?
e por quanto tempo vivemos a solidão inacessível da primeira
estrela?
os dias e os anos caindo segundo a segundo sobre as nossas pálpebras
cerradas
sobre a nossa espera
você chegou, instante de mim
esqueço pensamentos e medos
te abraço, e sinto o teu corpo deslindando o que sou
onde o silêncio guardará as palavras que te digo?
com qual memória?
onde o tempo guardou o primeiro dia?
onde esta ternura interminável vai guardar
a saudade imensa de cada dia?
onde o céu guardou a nossa chuva e as nossas sombras molhadas?
aguardemos, amor, que as flores perfumem a aragem
dissolvida na noite infinda
e os véus do passado sejam a doçura das frutas que os pássaros trarão
aguardemos o vento passar trazendo o rio ou o mar
e segredos que apanhou por aí
amor,
sinto saudades e sou só lembranças
dos tempos que ainda virão
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