domingo, 20 de maio de 2012

Adormece a noite

Adormece a noite
Os fragmentos de luz que os postes derramam sobre a tarde e o sol poente
transpassam a rua e o sereno diáfano que umedece o beijo ébrio do outono
Passos caminham os caminhos que se escondem nas sombras dos postes e dos beirais dos telhados
Os jardins são noites estendidas que se esvaecem por entre o sono da tarde que desce embalando os girassóis
A noite zumbe na aragem sons, mágoas, lágrimas de infância, ilhas onde a poesia faz dos meus sonhos verdades, segredos emaranhados
É maio na face da lua
Na face dos anjos é maio
É maio, também, nos teus olhos negros
Teus olhos são a poesia acordando suavemente a neblina e as flores noturnas
Acordando sonhos incompletos
Palavras dissonantes
Metáforas sem data e sem tempo
E a palavra se desfaz ao enterdecer e ao vento
Pela frincha da noite a primeira estrela brilha
A noite ergue-se longa e impassível como a primeira noite ergueu-se na incipiente dor dos Tempos
A noite desliza pela superfície das águas dos mares e dos poemas de rústicas palavras
Noite imponderável
Noite onde as hastes do trigo balouçam turgidas de luar e ninguém vê
Acariciando sonhos
Refletindo o amor que foi imortal (todo amor é imortal)
E o mundo inteiro era onde você estava
Debaixo de todos os céus ondulavam estrelas que eu colhia para você
Em toda a terra havia um jardim desenhado pelas auroras
Havia o mar e os olhos puros repletos de encantamento
Havia o mar pressagiando o passado
E a janela para omar
E a brisa que trazia de longe o teu nome
E a carícia dos teus olhos negros nas folhas tenras da noite
E na eternidade do mar soprou a difiusa melodia da ilusão
Palavras que soavam pelo quarto
e caiam, letra após letra, sobre os séculos, noite adentro

A noite adormece
sob o inefável escuro dos teus olhos
que, agora, como os versos oscilantes e ao acaso,
murmuram trechos de poemas
que eu, menino, colho todas as  manhãs
enquanto a lua cochila
e o pássaro chilreia pelos telhados
vazios
todo o vazio do mundo
que dói lentamente
exalando este perfume doce
que confunde os outros que há em mim
espelhos dos meus rostos
personas
das vidas que me foram dadas (impostas?)
a caminho do eterno
ou de mais portas de ilusões?

A noite adormece em meu peito
sem pressa
deita as estrelas para eu ver

A noite
a/dor/mece
e vem engolindo a rua
já tendo engolido o sol

Sentado, a olhar o mar,
fico esperando a tua ausência
na minha vida
e nesta tarde de domingo
onde só o outono me encontra
por entre este céu cinza
que me diz: melancolia

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