Lá na outra poesia
alguém já falou de amor
Lá na outra esquina
alguém já morreu de amor
Lá na outra música
alguém já cantou o amor
Lá no outro amor
alguém já chorou poesia
Lá no outro jardim
alguém já colheu a flor
Lá no outro tempo
alguém já perdeu a própria criança
Lá na outra estação
alguém já floriu com a primavera
Lá no outro sonho
alguém já esqueceu o tempo e a data
Lá no outro romance
alguém já se entregou à solidão
em novembros antigos
roubados ao útlimo sonho e prenúncios
e tudo foi o amor que se cumpriu
em alguns meses e dias em que o poeta
morreu
e subiu aos céus
onde ninguém quiz recebê-lo
já estava só, então,
quando o vento o conduziu
por entre as hastes da noite serena e fecunda
onde as palavras eram a seiva de um rio
e da primeira manhã
o poeta silenciou o seu grito
e entendeu o seu peito
tão vivo na mesma morte
ausente
na manhã que se seguiu
num poema guardou a lua
e em outro engendrou o sol
e o poeta já não estava mais só
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