quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Chove

A aurora apregoa a manhã como quem lê um poema
O dia vai amanhecendo
oscilando no ar úmido da chuva que cai
Cai uma chuva fininha
sobre o mar, sobre as vidas... sobre o poema
Trinam os pássaros a chegada de um novo dia
Debicam lentamente os sonhos e o silêncio
A madrugada recosta-se ao horizonte
As útimas estrelas pulsam
no ritmo da pulsação primordial
memória do Primeiro dia intangível,
sons viajando através dos tempos,
corações palpitando o momento 
infrangível das longas noites,
arquétipos
rumores dos milhares de anos
A vida nascendo da água primeva

Num tempo que dissipa este silêncio intangível
a madrugada caminha para fora do poema
Traz de longe resquícios da noite que o precedeu
Resquícios dos versos sonoros
Momentos...
de estar só
O dia amanhece na ilha
Por detrás dos farelinhos de chuva
o poema se insinua

Cai a chuva fininha
Perfeita
como um toque impreciso
de pele com pele
de palavra com palavra
Nasce, sob a chuva fininha,
a manhã definitiva
Lá longe o mar se confunde com o céu
traço feito a nanquim
sombras esbatidas
pelas pequenas frestas de luz
que vazam desde os séculos sozinhos
e este tempo de ausência
que eu não sei dizer o que é
Barco?
Vento?
Vela?
Vôo?
Ilusão?
A idéia contida na palavra,
estórias e lembranças
signo movendo o mundo

Olhos ofuscados pela luz acetinada da manhã
Águas cinzentas como o céu escuro
desta manhã
que chove plácida
e lentamente
Insondável nostalgia
escondida
na solidão da poesia
oráculo silencioso

Num céu perene,
sobre o mar antigo, milenar e profundo,
polvilhado pela chuvinha que cai,
voam alvas gaivotas de algodão

Nasce o dia
Sopra o vento
A vida acorda e suspira ao som da chuva
O amor dorme no coração do poeta

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