A palavra derrama cores nas flores,
embaraça-se às borboletas, e voa,
e trina com os pássaros acordando
o silêncio
para, só então, descerrar o véu da manhã
A palavra despe o rei
Põe a pedra no caminho
Deslinda-se com o tempo, lépido ou lento
E o tempo é só mais uma estória na estória dos dias
Nos livros aprendi as palavras mais doces,
as mais profanas,
absolutas,
inconclusas,
plangentes,
as mais preciosas
e inefáveis: amizade, amor, liberdade
As palavras nada são sem o respectivo ato
Palavras de esquecidos versos,
de esquecidos usos,
que o plácido vento leve leva docemente
Diáfanas
Sem destino algum
A dizerem liberdade
enquanto o sol tece a rosa
e a brisa perfuma as chuvas e os canteiros
A palavras só se entrega ao leitor digressivo
E vem a ser o que o sentir lhe diz que é:
o entardecer sobre as águas,
o sussurrar buliceiro das vogais
namorando na poesia,
por vezes é cerração,
que não deixa ver do outro lado,
às vezes é vento canoro
passando entre o capim,
outras vezes se mostra inteira,
ou pode nunca ter fim
Às vezes a palavra foge
e se esquece dentro de mim
Há palavras que só vertem sentido ao sonho e à alma
de quem é sandeu ou paroleiro
É no íntimo de cada um que a palavra escrita
deslinda a sua força e o seu devir,
conforme a fome e a sede que apoquente o leitor
fazendo-se, segundo o seu entendimento,
sua lúcida danação ou o seu adejo redentor
Apenas a palavra é mais linda do que a brisa de agosto
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