quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Deixa que eu te diga


Silêncio amoroso 1
 
Deixa que eu te ame em silêncio.
Não pergunte, não se explique, deixe
que nossas línguas se toquem, e as bocas
e a pele
falem seus líquidos desejos.
 
Deixa que eu te ame sem palavras
a não ser aquelas que na lembrança ficarão
pulsando para sempre
como se amor e vida
fossem um discurso
de impronunciáveis emoções.
 
Affonso Romano de Sant'Anna.
In Intervalo amoroso & Outros poemas escolhidos.
L&PM Pocket, 2005.
 
 
 
Deixa que eu te diga
Que quando amanhece
Ainda te amo
Te amo quando anoitece
E no desvão das nossas mãos
Te amo
Te amo
Na palavra que ainda não sei
Te amo tanto e quando
Te amei
Te amarei
Deixa que eu te ame na semiluz
Desenhada nos teus olhos,
Na negra noite dos teus olhos
Onde meus olhos mergulham
E emergem
Lentamente
Te amando
Quietos
E sós
Como o verso do poema
Que termina
Antes que a palavra ou o gesto
Possam dizer o quanto te amo
E deste amor eternas sejam
As folhas onde me ergo
Sobre a neblina perfumada do domingo
E no caminho apascentado pelo roçar
Do meu amor na tua blusa branca,
Pegarei na tua mão
E, então,
O amor se dirá
Imperfeito?
Possa ser,
Mas nenhum amor é mais bonito
Que este amor
Silencioso e terno que te dedico
 
 

 


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