sábado, 13 de setembro de 2014

Cores da madrugada


“Há anos que não vejo o romper do sol,
que não lavo os olhos nas cores da madrugada”
(Manuel Bandeira. In Antologia Poética. Editora Global, 2013)
No horizonte a madrugada derramava
lágrimas vermelhas,
tudo era fogo e mar
E o mar trazia a manhã para a areia
Molhava meus pés
Apagava meus passos
Deixava o sal na minha pele
Apagava a fogueira incendiada de segredos
Apagava as estrelas bordadas de azuis
Levava o castelo que eu erguia
com sonhos da minha infância
Levava as palavras
que eu escrevia na areia para você
Arrastava e esquecia a meus pés
as conchinhas e o afeto do contato
e o poema contido
no murmúrio sussurrado em cada concha
que me faziam lembrar de você
E neste momento tudo parava
A flor no botão
A brisa no ar
O verde no mar
A vaga eriçada pelo vento
Meus sonhos de então
Tudo parava
A madrugada
O grito cansado
A ternura de uma mão
em outra mão
O espanto
Duas notas de uma canção melodiosa
e pungente
O tempo: desafio e equívoco
A lua oblonga e torta,
ainda no céu,
ainda bonita
E antes que o sol
se desatasse de vez da madrugada
lavava os meus olhos
nas cores da madrugada
assim como quem
não quer mais nada
assim como se tudo fosse
só o caminho e a jornada

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