Final de abril
(domingo)
Declamam as cigarras, estridentes,
o cotidiano da tarde quente
Giram em torno das vidas que esperam
as águas latejantes e envolventes dos sonhos
Risca os ares dourados do outono
uma estrela que inaugura um céu cadente
Cantam nas bordas dos varais
os orvalhos nas manhãs odorosas
Dançam na curva da noite tiritante
os anjos e suas tessituras
Desce sobre o mar pulsando em ritmo
a bruma esquecida na névoa pungente
Voa em busca do leito largo de um sol
a andorinha que foge das lágrimas
[do inverno
Canta barcarolas com vozes vindas da infância
o vento amarelo que pousou entre teus cabelos
O mundo nem parece mergulhado no caos
as estações se sucedem
os sóis, despertos, roçam o horizonte
e os dias, todos os dias, abrem os olhos
para incompreensíveis manhãs
à espera do perfume rosicler da aurora
Imagem: Joan Miró
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