quinta-feira, 7 de junho de 2012

Campo de estrelas

O céu era este campo de estrelas
onde os anjos quedavam-se ao eco
dos cânticos que o vento sussurrava
e derramava docemente por sobre os homens
A noite era fria
Final de outono nos olhos esquecidos no encanto das noites
mansamente claras
nos caminhos que a lua desenhava
Feitas de coloridos ninhos de nuvens onde o menino guardava seus sonhos
lembranças de outros olhos
de eternos braços vazios
a caminho da aurora de um velho mundo
Silêncio!
O dia nasce acordando os passarinhos
e riscando arabescos num céu mosqueado de azuis e lilases
Agora resta esta manhã nascida do mar
e da saudade
fragores de um mundo que só existe em mim
e no menino
pássaro azul
na sua alma sem céu e sem flores
mas com seu riso e sua meiguice
encanto da infância
de infinitos amores
não os que tive,
mas os que sonhei
e pelos quais a cada dia morri por não ser você
que estivesse aqui
O sonho eu guardei em alguma nuvem da infância
em algum canto longe de mim
onde o tempo cresce em dor e em solidão
Ainda espero teus olhos
Meus braços são só espera e gesto
dentro dos ninhos de nuvens da noite fria de um outono
sonhado do jeito terno do amor
A noite é meu canto soprado nas tramas do vento
que passou jogando espuma das ondas em meus olhos
levando a tarde para o girassól
abrindo as janelas e portas para que a poesia entrasse e,
de novo, desse sentido à vida e às madrugadas
grão que viu o menino crescer e dentro do que sou inoculou seu tanto de dor
nas frias noites de outono
nas febres do inverno que não dorme
nos dias acesos e coloridos florescendo primaveras
na brisa cálida que envolve as sombras e o azul das hastes do verão
Ainda guardo a ternura do beijo na tua mão
dos meus dedos aquecendo-se nos teus
em um inverno tão nosso
com gosto de encantamento
Reinventamos o sol nos nossos dedos enlaçados
O amor era tão fácil
andando com a gente pelas ruas caladas
por onde o menino agora anda sozinho contando os passos
entre o sonho que foi e a primeira estrela que servirá de poema
para dizer o quanto gostei de ti
Sei que ainda há momentos e cantigas para não se morrer
da indiferença hipócrita de uma primavera que não floresceu 
Sei que ainda há momentos
e cantigas
e esta sensação de que o campo de estrelas entrará janela a dentro
e solfejará cançoes devagarinho
que é pro corpo todo saber da despedida do amor
Ai, ai...
Sei que ainda há momentos onde o orvalho e a lágrima
nos ajudarão a saciar a vida sonhada
nos regatos onde solto meus barquinhos de papel
e invento que a ternura existe
como um luar em pleno dia
como uma estrela coruscante
como a palavra faiscada no que deveria ser eu
e nas saudades que me chamam pelo nome da infância 
O orvalho ondula suavemente na pétala da flor
A lágrima leva meus olhos silenciosamente
para ver a flor que desabrocha definitivamente
trazendo teu nome à memória
às janelas abertas
às manhãs que descem insuspeitavelmente
sobre o cântico do rio
e sobre todas as coisas suas que ficaram em mim
garatujando a vida
e o sonho deste instante
                                    (eternidade)
                                       (ciranda) 
onde a minha alma habita
                                   (e onde ficou nosso amor)

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