terça-feira, 19 de junho de 2012

Desenhei a noite


Desenhei a noite
com sonhos usados
velhas palavras
ruínas de um velho dia

Desenhei a noite
com dobres de sinos
versos sonoros e desnudos
e o vôo de andorinhas rumo aos ninhos

Com as (poucas) roupas da meretriz
eu desenhei a noite
toda cheia de cores,
sonhos,
perfume barato,
uma lua carmim,
e com as lágrimas que se escondiam
nos olhos nus da poesia
que o corpo da meretriz declamava quando nu
desenhei a noite
e os cenários infindáveis da solidão

Desenhei a noite
com um gosto de passado,
de tempo perdido,
com gosto de engano

Desenhei a noite
com o sentimento morrido
com teu nome sussurrado pelo mar
e as lembranças adormecidas esperando o teu olhar

Com o pranto a me chamar
eu desenhei a noite
toda cheia dos teus olhares,
desencanto,
quieta loucura,
e com o desespero que se escondia
na hora sozinha do escuro adeus
na fuga dos passos andarilhos do amor
desenhei a noite
e os cenários indecifráveis de uma dor

Imagem: Joan Miró

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