domingo, 24 de junho de 2012

Silêncios adormecidos

"Além da estrela"

"Além daquela estrela o que é que existe?
Será que existe alguém assim tão triste,
será tão triste, assim, o céu de alguém?"

(Ronaldo Cunha Lima - Breves e Leves Poemas)


 
A tarde doura os montes, as árvores e as casas
em seus passos derramando-se para a noite
que em versos é a sombra das minhas lembranças
é a tua presença no sinete do esquecimento,
nos meus sonhos,
na saudade.
A tarde, quieta e calada, doura os instantes
dos pássaros no arvoredo
doura os meus sonhos absortos no meu medo. 
A vida brinca de infância no dourado da tarde.
Na tarde inalcançável dos teus olhos
a primeira estrela caminha para a minha noite
A primeira estrela acende a minha noite
e as casinhas, esquecidas no ouro de um sol plangente,
vão se apagando da visão
em seus silêncios adormecidos no
canto dos pássaros que se calaram
e já não dizem o teu nome
e nem destas tantas coisas que, talvez, sejam poemas.
A lua nova e a ternura,
o sol mergulhando no ocaso,
já não trazem tua boca orvalhada de manhãs para eu beijar
Os fios dourados da tarde  douram
as curvas do horizonte
e vão povoando os céus,
vão dando nomes às palavras antigas
que o crepúsculo dita à emoção,
num tanto de eternidade,
num tanto de solidão
A estrela, trêmula e triste, detém
meus olhos no espelho de esmaecidos tempos,
de luas que me comovem,
onde meus abraços eram mortes tão banais
na insustentabilidade infatigável do Tempo,
ávido punhal,
argênteo fogo,
entre as cinzas da noite
que o vento sopra dissoluto
nas vazas sutis que se desfazem
em fragrantes vermelhos

Na tarde molhada por sigilosa tristeza
as palavras tiritaram silenciosas.
A indiferença disse, um a uma, as palavras
que viveram nos teus lábios
e que no tempo, inexorável e incognoscível,
misturaram-se à garoa de gotas frias e solitárias
de um retalho de primavera oscilando no horizonte.
A poesia me ouvindo,
entre palavras cravadas na pele 
de um novembro sem memória, 
inventou o lamento onde te procurei,
inventou com vento e bruma um céu triste
e de ilusórios segredos morosos
para um amor que não resistiu
à passagem dos dias
e dos versos caidos nas páginas em branco,
comovidamente
mudos

Imagem: Wassily Kandinsky

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