domingo, 16 de novembro de 2014

De que me servem as palavras?


De que me servem as palavras
se vão partir para morrerem solitárias
e esquecidas logo ali adiante?

Com quantas palavras me espanto
ao saber que o robô pousou no cometa
e captou a sua voz antiga falando a fala dos poetas?

Do que eu já disse quanto despiu-se ao teu coração?

Quanta palavra mata a fome de um estória?

A palavra me conta desde que eu era menino
e o mundo morava onde eu morava
e o mundo acabava onde eu acabava
e cabia, com idioma e brasão, dentro do meu sonho

A palavra é margem ou é rio?
A palavra faz em mim calor e frio
Faz a insônia nas noites
Desfaz a insânia crassa e anacrônica da vida

A palavra começa antes da boca e da mão
e é inacabada e infatigável como a solidão

A palavra começa
antes da luz regressar à retina
e escrever em meio a lençóis, afagos e abraços
o nome da negra noite
nos olhos negros da menina

De que me servem as palavras quando,
solitárias e esquecidas, morrem,
ali mais adiante,
menino e amor?

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