quarta-feira, 1 de abril de 2015

Aroma dos ventos


Ao longe sinos dobram anunciando
a noite que nos falseia a morte
entre o adormecer e a inconsciência
capciosa do sono
Eclode, no centro do meu sonho,
na metáfora da minha morte,
um lago
a molhar-me os pés da infância
e onde bateia-se os arcanos de agostos
No lago um patinho feio desliza sua feiura
e sua timidez
a debicar o momento
Por entre as hastes dos juncos
a névoa espreita,
ressumando, lentamente,
pequeninas gotas de orvalho
na face da última estrela da manhã
O peso do orvalho gira e escorre
ao passar do vento cinzelando
o poema que se aninha no vir a ser de um flor,
nos passos hesitantes da criança que se põe em pé,
na greda macia e silente
onde um demiurgo molda a simplicidade do velho dia
Na sombra que enlaça o lago
pousam os primeiros pássaros
trazendo consigo o céu original
e o lume da primeva estrela,
da lua primordial,
acesas em mais uma aurora infrangível
por onde os sonhos perpassam a essência do devir
deixando ao redor a solidão do aroma dos ventos
e por onde a escuridão se esbate
úmida de sereno,
acordando os girassóis
e debruando com as primeiras luzes amareladas
a candeia sonolenta do dia
e os oblongos ventos úmidos de sol

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