quinta-feira, 2 de abril de 2015

Palhaço


como vai?
como vai?
como vai?
tudo bem,
tudo bem,
bem, bem!
era uma vez
um poeta palhaço vidente
as mãos recendendo à estrelas,
os cabelos molhados de vento,
sentado sobre o mundo
(esta bola colorida a sangrar)
desafiando os moinhos de Espanha
e dragões do norte americano
cara pintada de sonhos tão leves
quanto os suspiros e risos infantis
na boca um sorriso vermelho
pintado por sobre um grito sufocado
na alma estórias viradas do avesso
estórias sem fim, sem começo
um sol escondido no bolso
no rosto uma lágrima,
uma única lágrima renitente,
pendente a um único olho dolente
borrando os versos que aos olhos tremem
por sobre os segredos gravitando
em outros segredos revelados
improvisando piadas
enquanto dizia sofismas
para a imagem no espelho
e para a solidão do ano inteiro

- Senhoras e senhores, com vocês,
no maior espetáculo da terra
como a luz das manhãs
como chuvas de janeiro
como a tímida estrelinha
cintilando lentos azuis
o inimitável,
o inigualável,
a pedra no caminho de Drummond,
o palhaço poeta vidente,
que com seus sapatos compridos
schlep, schlep, schlep
vagou por estradas à beça
bebeu rios de janeiro
correu os olhos nos livros
colheu ideias e sonhos nas entrelinhas
escreveu com dedos pressurosos
e olhos lacrimosos
tanta palavra em silêncio
que se move na doçura
o palhaço vidente poeta Giramundo
vestido em paletós de flores
recriando com seus rabiscos
em papelão vagabundo
os sonhos destroçados,
a vida chinfrim e sem sentido
de um mundo fendido pela morte
sem poemas
a debicarem o mistério
sem ninguém do outro lado

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