terça-feira, 28 de abril de 2015

Lés misérables

        

   Lés misérables
(Título do livro de Vitor Hugo)
 

Transita no cosmos vago e vazio o segundo
que fará o próximo instante
(Já fez. Agora já é passado)
com suas guerras atávicas e suas misérias estóicas
Com seus currais onde a escória
e a legião dos desvalidos e faminto
pranteia a existência que escorre
para as valas do esgoto exposto
como um nervo dorido e latejante 

Deslinda o inopinado segundo
o que a nova e indefectível ciência apresentará
como a última descoberta para uma vida longeva
que retardará “ad extremum” o prosaico
“descanse em paz”
O engano engendra aleivosias,
mitigação para o medo
cúmplice do fim do verão
Enreda a tribo dos seres huma(s)nos
na ilusão irracional de adiar o inelutável
que a vida alinhava com os imanentes fios do fim
enquanto a rosa, ignara das coisas de Deus,
desabrocha na solidão do botão,
esplende ao sol
estremece e suavemente aspira
o aroma da terra morna de chuva  
rosa que a brisa cuidará de delir
no tempo contido na impermanência da rosa
tempo contido em sua essência e no devir,
imanência de todos os seres
Esboroam-se os segundos
e com os segundos
exala-se do eterno o corpo mofado da morte
urinando  chorume sobre os meus pés

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