colhendo flores
que não deveríamos colher
roubadas aos olhos e ao toque de outrem
sem pudor
pela ânsia da posse corriqueira
de um prazer ou de um desejo inominado
vendo partir o tempo que não morre
e nem se extingue
escorre
por onde passam os ventos em périplo
a caminho dos vales guardados
entre segredos vários e inexatos
deixando a eternidade acesa nos grãos da brisa
no destino sem regresso
deixando a espera desenhada
nas janelas entreabertas
e ofegantes como mãos colhendo sonhos
e assim vamos vivendo
tateando infindáveis rascunhos
esboços amarelando nas sombras
das ausências despenhadas
e do despetalar das flores
esboço de céus infrangíveis
das chuvas aguardando as tardes
da febre no chão e no ar depois da chuva
quente e olorosa
e assim vamos vivendo
sem sonho, sem utopia
acumulando um dia
por cima de outro dia
buscando algum sentido
onde só há a vida fria
da semente que sem nascer
[já era morta
[já morria
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