terça-feira, 12 de janeiro de 2016

E assim vamos vivendo V


e assim vamos vivendo
entrelaçando as mãos
simples e suaves
cingindo a brisa que trouxe
os benjoins e as verbenas
as horas amenas
a sede de completude
as brumas
a vontade de chorar
o poema indizível
o farol a nos mostrar o caminho
antes que o barco inscreva os sóis
na curva opalescente do horizonte
antes que se esqueça a rota e o porquê da viagem
momento a momento
navegando no mar sob a chuva
que cai de repente
da beirada do precipício incerto
da onde os medos e as miragens
lançam enganos
melancolia, dores e gritos
tendo de volta o silêncio
entre tantos quereres aflitos
onde espraiam-se as lembranças
de uma vida que se esconde da vida
uma vida que nunca existiu
pendoada de sonhos e gestos
de tantos carinhos incertos
de imperecíveis afetos
de um só acalanto
de um só canto
que até os olhos possam ouvir

leve
muito leve
sem razão aparente
a noite cai
inconsútil
e surge lentamente como miragem
e fuligem
como um manto escuro e sem formas
como um doce poema sem normas
depois da tarde
quando o tempo já foi embora
e a lua dorme amarela dentro dos vales,
dentro de escuros mares de vidro
nos labirintos das ruas
nas platibandas
nos ares

e assim vamos vivendo

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